FERNANDO CHAGAS DUARTE
( Portugal )
Nasceu na cidade de Lisboa em Setembro de 1964.
Trabalhando com um pé na investigação geográfica e outro nas pescas, tem rodado pelo mundo em vários percursos profissionais (e de lazer). Participou de forma activa em experiências associativas e culturais, estando ligado à génese de Associações de defesa de património imaterial.
Formado em Geografia e planeamento regional e doutorado em geografia económica, escreveu teses, dezenas de artigos técnicos e geográficos e muitos outros textos dispersos. Porém, raramente se atreveu a divulgar as suas escritas poéticas, onde gosta de invocar o espaço e o tempo.
SOM DE POETAS – Colectânea de Poesia. Lisboa?: Papel D´Arroz Editora, Múltiplas Histórias Unipessoal Ltda., 2015.
418 p. ISBN 978-989-8796-37-0 Ex. bibl. Antonio Miranda
AS MÃOS
1.
Na frescor em que mergulho as mãos ávidas
descubro a água com origem de vida
essas mão inebriadas pelo tacto
quando habitam as rodas descobertas pelo tempo.
Pelo sangue de luz. Pela água eterna.
As mãos que tocam a maturidade dos campos
e os seios despidos e o rubor fresco das pétalas
imergindo num êxtase de colmeia.
No corpo vertido, sem descanso aparente
pendem os braços e deles os dedos afilhados das mãos.
Extenuado o corpo da vida inteira. Incessante.
Que entra pela frescura húmida do corpo fêmeo
renascendo os oceanos com mares e todas as águas
num reformular da química absoluta da hora
por dentro de um relógio.
Concedendo que a frescura regresse germinal, fecunda
ao suor líquido do trabalho. Um talvez tornado certeza
na força motriz gerada por palavras de olhos amendoados.
A água não pára.
Saltita sobre pedra, brinca com as ervas. Lava-lhes
o corpo, alma e loucura. Inunda a boca e as rosas
até às agulhas rombas e raízes profundas.
Escorre sobre a pele em gotas de sabedoria
— lábios luxuriantes —
definindo-lhe ciclos de poesia até o mar.
Pela boca,
a saliva de dois evita espinhos e escolhos de língua.
Suga todo o universo num toque de partilha conjugal..
São as tuas mãos que sentem a frescura das águas
explicando a razão de sermos.
As pálpebras
fecham-se às lágrimas numa recusa de infelicidade
preferindo as gotas doces da chuva.
As mãos acariciam-te o céu antes das nuvens.
II.
Se somos duas as mãos
somos dois os olhares que trocamos a rir.
O azul está condenado ao ócio do céu
cheio de querubins brancos. Inconfessável
paraíso branco com nada. Quero o rubro
para nós, com a intensidade das lavas.
Não vale mais a pena soltar-te os dedos dos meus
intrincados pela gargalhada que se vê como desculpa
para o Verão. És em mim o sorriso daquelas mãos.
Um mapa com estradas desenhadas por entre escarpas
e desertos sem areia — e muito mar — indica o Norte.
Também o cimo da montanha e as duas asas dos pássaros.
Somos duas, as mãos com que unimos o Mundo.
INTERIORMENTE
Todos os poemas serão de amor
mesmo os que falam
com os olhos.
Todos os afectos falam por si
dentro das palavras
...ainda que não digam.
Dentro dos poemas acresce a insurreição
ao crescer o amor.
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Página publicada em novembro de 2021
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